terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

BB, caixa rápido, fim de tarde, saque eletrônico. De um lado uma jovem mãe segura seu bebê nos braços, do outro um senhor, feição desgastada pelos anos que o consumiram como velas acessas, derretidas pelo tempo. No meio dos dois, eu... Ligeira, inquieta e pronta pra resolver uma transação bancárias. Dinheiro curto, que raramente vejo colorido em minhas mãos. Quase virtual.

Local mais tático pra levantar a palma das mãos e suplicar ajuda. Fico constrangida, me soa punk a recusa em ajudar. Mas ajudar a quem, se a esmola os torna mais miseráveis que o ato?

Continuo sem moeda, sem saber o que fazer. Mas faço. Checo o saldo e outra idéia me envolve a cabeça... Não se saca dinheiro trocado num caixa rápido, apenas notas inteiras, redondinhas como exatas.

Onde estariam as moedas, símbolo de nossa caridade safada, revestida de hipocrisia, programada para aliviar o peso de nossa consciência desconfiada e confinada em nós?

Exercito o papel, encontro as moedas tímidas na mochila. E agora, pra qual dos dois as daria? Pro velho cansado da guerra, ou pra jovem de seios de vazios com o filho faminto por leite?

Até parece conto da “carochinha”, mas é mais uma imagem rotineira das ruas. Passagem pro texto.

Mal penso e repasso a prata pra mãos da mulher. Incomoda-me novamente. O velho me olha sem vontade, a moça agradece sem esperança, a idéia não amenizada e a miséria que parece um insulto, mas ainda motiva a fé de um homem cansado.

eliz

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