BB, caixa rápido, fim de tarde, saque eletrônico. De um lado uma jovem mãe segura seu bebê nos braços, do outro um senhor, feição desgastada pelos anos que o consumiram como velas acessas, derretidas pelo tempo. No meio dos dois, eu... Ligeira, inquieta e pronta pra resolver uma transação bancárias. Dinheiro curto, que raramente vejo colorido em minhas mãos. Quase virtual.
Local mais tático pra levantar a palma das mãos e suplicar ajuda. Fico constrangida, me soa punk a recusa em ajudar. Mas ajudar a quem, se a esmola os torna mais miseráveis que o ato?
Continuo sem moeda, sem saber o que fazer. Mas faço. Checo o saldo e outra idéia me envolve a cabeça... Não se saca dinheiro trocado num caixa rápido, apenas notas inteiras, redondinhas como exatas.
Onde estariam as moedas, símbolo de nossa caridade safada, revestida de hipocrisia, programada para aliviar o peso de nossa consciência desconfiada e confinada em nós?
Exercito o papel, encontro as moedas tímidas na mochila. E agora, pra qual dos dois as daria? Pro velho cansado da guerra, ou pra jovem de seios de vazios com o filho faminto por leite?
Até parece conto da “carochinha”, mas é mais uma imagem rotineira das ruas. Passagem pro texto.
Mal penso e repasso a prata pra mãos da mulher. Incomoda-me novamente. O velho me olha sem vontade, a moça agradece sem esperança, a idéia não amenizada e a miséria que parece um insulto, mas ainda motiva a fé de um homem cansado.
eliz
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