“Madrugada chegou, o sereno caiu, meu amor de cansaço caiu nos meus braços, sorriu e dormiu.”
Noite à dentro em plena W3, sentido norte, depois da festa onde a banda tocava. Povaréu de tudo quanto é cor, por tudo quanto é jeito. Depois o esqueleto pede arrego, cansado da dança no meio do barulho. O retorno da hora entornada.
Brasília Rádio Center do lado de cá, de frente pro resto, a puta desnuda na rua. À noite “todos os carros são pardos”, mas ali o sujeito negocia o programa e ela, até então escondida no sobretudo preto, encosta na porta do motorista, olhar de artista, encena sexualidade, rabo de olho e sem que se perceba o nu, se faz cru... Seios, ventre, pernas e pêlos pubianos apelam para os olhos afoitos do homem sem nome.
Aqui, os meus inquietam-se, pedem um pouco mais da cena contemporânea da puta.
Corpo comum, mulher comum, sem grandes traços e muitos atos.
Num vulto ligeiro a rua parece a mesma, comum de todos os gêneros, parente de todos os fatos.
E a puta presenteia a libido do homem e enriquece o parágrafo.
Será que o negócio foi fechado? Serviço completo, sem traumas, sem tabus, sem contrato de experiência, sem regras, apenas a certeza do poder sobre o prazer ou o inverso? O corpo alugado para o prazer, comum a todos nós.
“Eu só queria que não amanhecesse o dia, que não chegasse a madrugada. Eu só queria amor e mais nada.”
eliz
(*) Trechos da música Madrugada Chegou, autoria de Caetano “Meloso”
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