(Imagem: Google)
Os pais geralmente querem o
melhor para os filhos, desejam ao menos que estes consigam ir além de onde eles
pararam, quando não almejam que faça diferente, trilhem novos caminhos dando
passos mais seguros. A experiência de vida lhes deu o olhar atento ao tempo desperdiçado
e ao modo como o desperdiçamos. Isso tudo é natural dentro dessa relação enorme
de troca e aprendizado. O problema é que os filhos têm suas próprias
experiências, repetidas ou inovadas, mas únicas e que, somente com o passar da
vida é que faremos nossas próprias considerações a esse respeito.
Olhando para trás, percebo
que, particularmente, o que me foi mais imposto verbalmente foi: estude para ser alguém, para não ficar na
mão dos outros, para ter autonomia financeira, etc e tal. Hoje entendo o
que tentavam dizer, mas a ordem me soava como imposição e não como lição de
quem já havia vivenciado um pouco mais da vida. Acredito que mais por
necessidade, aprendi na prática um pouco dos motivos desse discurso inflamado de
vida, trabalhando dos dezessete anos até hoje sem pausa e maiores intervalos,
pagando contas, assumindo responsabilidade que a vida me impôs à força e mais
cedo do que eu pensara. Então, posso dizer que pouco do que almejaram pra mim
aconteceu, me considerando independente dentro de meu pequeno espaço de interdependência
que a sociedade cria entre as pessoas. Ninguém é tão independente como pinta,
eu diria. Ando com as próprias pernas há tempos, mas voltando aos desejos
maternais do início deste, quando se tem vinte anos de vida cabe tanta juventude
dentro da gente que a sensação que se tem é que não vai dar tempo de usufruir
tanto fôlego guardado no peito, como se tudo fosse pra hoje, como se não
houvesse amanhãs. Muitas vezes há. Temos a cabeça voltada pro agora, pra
urgência da hora, pra emoção do momento, onde nada é mais importante de que
existir plenamente no ato. De fato é assim! Dos vinte aos trinta, diria que é o
momento das plantações necessárias: estudo, estudo, estudo, trabalho,
transformações, impulsos, viagens, experiências que abram a cabeça precisam ser
vivenciadas para a posteridade. Abrir a cabeça para enxergar longe, vislumbrar
paisagens e experimentar.
É claro que nem todos nós
podemos viver essas conquistas da fase que eu chamaria dourada de nossas vidas,
porque a realidade pintada é diferente para cada indivíduo.
Embora muitos digam que a
vida começa aos quarenta, eu diria que a vida começa no parto, bem óbvio assim!
Mas o abrir-se para a vida, com a cabeça já tentando pensar por si mesma, o que
não é fácil, começa aos vinte anos. Temos aí dez anos de abertura para o mundo,
pois embora sempre seja tempo de recomeçar, nem sempre se recomeça com o mesmo
tempo que se tinha, até porque a vida após os trinta é mais exigente consigo
mesma e nos transfere isso com: cobranças, penalidades, questionamentos diários
de nossas escolhas e passos, pois sabe que não temos tanto tempo para errarmos
como antes.
Quanto aos nossos pais,
eles quase sempre levam a razão, mas pecam quando não dão o exemplo, pois
aprendemos, enxergamos, projetamos e transferimos no exemplo, este é um senhor
poderoso que torna muitos discursos vazio por falta de praticidade. Eles não
são culpados, ninguém o é. Mas se um dia eu tiver um filho, e esse se me dá certo
arrepio, arrisco dizer que, tentarei expor o valor de todo o tempo da vida
dele, em especial, o valor dos vinte aos anos trinta, quando a juventude ainda
tem muita gana de respirar o instante como se esse fosse o último. Lembrando
também que ele terá o direito de escolher o seu caminho, assim como eu tive o
meu. E caberá respeitá-lo com um indivíduo que pensa por si mesmo, por mais
difícil que seja essa transição. Faz parte.
elizpessoa