segunda-feira, 14 de abril de 2008

Do contrário

foto: Alfredo Almeida Coelho da Cunha

Passei horas pensando rabiscos, arriscando cartas, decifrando lembranças, descruzando pernas, alinhando pensamentos, esmiuçando arquivos, recortando sensações. Segui, como se algumas coisas estivessem enraizadas na alameda.

Depois de horas a fio, a única certeza despida, foi àquela natural das coisas como elas são.

Fico enfeitiçada pela lembrança torta lá fora, pela agulha e seu dançar nas faixas do vinil, e nas vozes de cantores já mortos, ainda vivos dentro da gente.

É tão fácil perder-se no silêncio e deslizar em horas descosturadas no tempo.
Depois é tudo tão tranqüilo nos sábados pela manhã, nas primeiras lembranças da matina, no frescor de um dia desnudo em si, como se o primeiro fosse o instante (que passa).

Do contrário o dia se finda cansado e a atmosfera das pressões sobre põem-se sobre os ombros dos desafortunados.

Penso melhor quando o dia descansa, quando o sapato não aperta os dedos da frente e a roupa vira trapo de fim de lida.

Há que pensar melhor quando o cinto desaperta, quando o nó desata, e a fome se espanta.
Há que se cansar melhor depois de tudo isso.

E quando se pensar ter fim dado aos pontos da linha, as linhas dão ponto no fim – começo de tudo.

É tarde, e a tarde se espanta ainda cedo.

Mas por enquanto, o presente é a presença constante dos meus atos.

Bem por enquanto...


eliz pessoa

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