domingo, 30 de dezembro de 2007

Fluidos...

Foto: Bruno Abreu


Um ano, como muitos outros, de vários acontecimentos felizes e alheios a tanta felicidade.

Como se não houvesse outra maneira, as coisas transcorrem dentro do caminho, do previsto e se escondem em caixinhas de surpressa imprevisíveis.

Assim, chegamos aos últimos suspiros de dois mil e sete, e ele não vai tarde, pois nada nem niguém se esvai antes do tempo, fora da hora. A vida transcorre como em ficções de cinema e barbarisa com outros efeitos tão reais. E tudo se pinta de branco, vestindo roupa nova, calsinhas coloridas e tantos feitiços fantasiados de simpatia, como se pudéssemos mesmo, de uma a outra, pincelar a energia para o futuro, quando ainda cremos nisso.

Superticiosos ou não, e para aqueles que aqui estão, vale a celebração, seja ela qual for, nas praias do nosso litoral, nas ruas dos centros das grades cidades do mundo, na roça, na cama, aos sons de música que transam um transe no corpo de alguém, nas muitas vibrações e desejos de que ele venha realmente enfeitado de bons fluidos e muitas alegrias.
Não tirando os pés do chão, nem esquecendo a cabeça nas nuvens, porque o tempo, acima de tudo é a única mudança constantemente infinda... E nós, dentro do curto espaço silencioso dentro dele, nos cabe o desabrochar como flores em suas várias estações, adormecer na sabedoria da semente guardada na terra árida de nossa vegetação. Como crianças que brincam no mundo.
E vivendo nos mostramos inacabáveis, como barulhos da inocência jamais esquecida na gargalhada de uma criança.

Eis o tempo novo, que só nasce dentro da gente...

E para esquentarmos os tamborins vale qualquer rito, seja em forma de lista de projetos organizados para o novo ano, seja a limpeza de todas as tranqueiras empilhadas no canto da casa, ou nos textos que nada mais dizem de importante jogados ao Deus dará. Nos livros já lidos e relidos, e na teima interrogante do saber... Nas promessas de mudança, nas muitas formas de pensamentos abismados em nós e todas os pertences que não nos cabem mais. Todas as velhas roupas estampadas e coloridas, todos os mitos e fadigas de um tempo em seus últimos suspiros de tentação.

Depois disso, a flor pra Yemanjá, o abraço inteiro, a ressaca do dia seguinte intercalada em nós.

Luz aos homens de bom coração.

Feliz Ano Novo!


eliz pessoa

terça-feira, 18 de dezembro de 2007


É quase chuva, e os ventos anunciam movimento nas cortinas daquela casa.

Eu bem poderia, faria, diria, insistiria, remontaria, removeria montanhas para enxergar do outro lado daquela fantasia, daquele pequeno espaço que a criança presumiu existir ali, onde o sol se insinua. Mas preferi ficar vagando em meio a pensamentos sacudidos pelo vento, que suponho ser macho, pelo artigo que o defini antes de o ser.

É noite e a terça-feira se expande sobre as linhas do parágrafo, quando alguns loucos não arriscam versos novos, para não acertarem a lucidez. Lúdico, o movimento da cidade move o vento, que move moinhos nos montes de Cabo Frio. E atrás de mim, o áudio televisivo reclama outras tecnologias, e o auxílio de uma garrafa de cerveja, esclarece outras aliterações.
Eu não sei bem onde foi parar àquela velha roupa colorida, desbotada em mim.

foto: internet


: : eliz : :

sábado, 8 de dezembro de 2007

Tapiocas na Capital da "Federanças"

fonte: blog Marcelo Katsuki


Ele morou seis anos em São Paulo, ela nasceu em Brasília.
O fato é que, naquela noite de sexta-feira, eles, resolvendo fugir do agito, optaram por um rodízio de tapioca. Escolheram a mesa, sentaram-se e aguardaram o atendimento.

Um minuto, dois minutos e três minutos separavam a espera do atendimento.
Ele reclama pra ela do atendimento “desatendido”.
Ela, por outro lado, já estava acostumada.
Ele sugeriu uma aposta de que a pizza do Forno Penedetto chegaria primeiro à mesa. Ela responde que não é para tanto.

Enquanto ele arrisca uma aposta, ela alimenta os sentidos, quando a atendente se aproxima, com um bico nos “beiços”, trazendo um frágil papel toalha “delicadamente” amassado sobre à mesa, como se tivesse limpando uma frigideira engordurada.
Eles se olham atonitos e resolvem impregnar de grafia o papel toalha mal amassado.

Ele escolhe os pedidos de números: 20 e 21.
Ela escolhe o 6, e um seis e decide por outro número, quase geminiano.
Ele pensa na sede, ela gosta de cerveja.

Os dois querem saber as opções de marcas.

Eles só tem Skol e Bohemia.

Ele pergunta pela long neck, e a atendente responde que tem long “net”.
Eles se animam em provar o sabor da nova cerveja. De repente, a Bohe-mia, aqui me tens de regresso...

Ele se diverte com a long “net”, ela o censura arriscando a primeira pedra para o último erro. Até porque ela chama de Jung de “Iung”, assim como ele chama “Freud” de “fróide”.

Os olhos dele se alegram com a chegada das tapiocas, esquecendo da solidão do estomago vazio.

Ela redige, enquantos as garçonetes tecem intrigas laboriais.
Atendimento disfalcado, versos e fome zero.

E roda uma, rodam duas e rodam três versos sobre o prato nordestino.
Satisfeitos, eles resolvem matar o texto, antes que o texto eliminem-os de vez.


: : eliz : :