terça-feira, 23 de janeiro de 2007

“Madrugada chegou, o sereno caiu, meu amor de cansaço caiu nos meus braços, sorriu e dormiu.”

Noite à dentro em plena W3, sentido norte, depois da festa onde a banda tocava. Povaréu de tudo quanto é cor, por tudo quanto é jeito. Depois o esqueleto pede arrego, cansado da dança no meio do barulho. O retorno da hora entornada.

Brasília Rádio Center do lado de cá, de frente pro resto, a puta desnuda na rua. À noite “todos os carros são pardos”, mas ali o sujeito negocia o programa e ela, até então escondida no sobretudo preto, encosta na porta do motorista, olhar de artista, encena sexualidade, rabo de olho e sem que se perceba o nu, se faz cru... Seios, ventre, pernas e pêlos pubianos apelam para os olhos afoitos do homem sem nome.

Aqui, os meus inquietam-se, pedem um pouco mais da cena contemporânea da puta.
Corpo comum, mulher comum, sem grandes traços e muitos atos.
Num vulto ligeiro a rua parece a mesma, comum de todos os gêneros, parente de todos os fatos.

E a puta presenteia a libido do homem e enriquece o parágrafo.

Será que o negócio foi fechado? Serviço completo, sem traumas, sem tabus, sem contrato de experiência, sem regras, apenas a certeza do poder sobre o prazer ou o inverso? O corpo alugado para o prazer, comum a todos nós.

“Eu só queria que não amanhecesse o dia, que não chegasse a madrugada. Eu só queria amor e mais nada.”

eliz

(*) Trechos da música Madrugada Chegou, autoria de Caetano “Meloso”
Diesel comum R$ 1,89. Álcool comum R$ 1,78. Gasolina supra R$ 2,65. Gasolina comum R$ 2,65. Posto da 302 sul – SINDICAVIR.

Debaixo dos pés, vestidos de sapatos vermelhos, galhos amputados das árvores verdes. Troncos de madeiras...
Nos olhos, a paranóia de quem já foi assaltada.
Gente que mora no pé da árvore, estacionamento de rua, cheiro de urina...

Lá de cima, um assovio: fio! fio! O enfermeiro de branco e o paciente de pardo dão sinal de vida. Estendem a mãos num tchau. Envergonhada não sinalizo, apenas dou um sorriso no canto da boca.

Jardim de girassóis.
Coisa linda são os girassóis!
A feira desarma, a mercadoria se esconde e num passo a frente, todo muda de lugar.

Aqui atrás, a moça caminha com sapatos barulhentos: toc! toc! toc!

Lá embaixo boates que fazem programas com mulheres da noite, fora os mendigos, menino de rua e barulho de boteco.

- Chega aí! Que eu quero te fazer uma pergunta! Diz o sujeito.
Bate a ‘neura’, viro as costas e vou embora.

Embaixo da plataforma, uma Brasília engarrafada. Sujeito quer tirar uma foto pra mandar pros amigos de sampa. Só porque dizem que aqui não há congestionamento.
‘Arranha céu da boca paulista’.

Na radiola da plataforma superior da ‘rodo’, o reggae do Maranhão.
Churrasquinho de gato se mistura com o rap da periferia. Muito barulho.
Dentro do shopping, “capitalismo selvagem dos homens primatas”.
Natal do consumo.
E a economia cresce nas filas de sangue latinos.

Na saída, um forró cafona empolga os guardadores de carros.
De carro em carro um menino pede moeda, o lápis perde a pontaria, quando a letra perde a beleza e a testa se enruga com os olhos atentos.

O cara sai do orelhão, que se estivesse tocando eu atenderia.
O chão já ta quebrado no asfalto e o frio ta caindo com a noite.

E aí, será que faz barulho mais tarde?

eliz