(Foto Fonte: Redes Sociais)
Amanheci de ressaca,
com o coração apertado.
Eu votei nas últimas
eleições, acreditando que o meu voto faria a diferença. Votei acreditando na
legitimidade do voto. De lá pra cá o país dividiu-se ao meio, de um lado a
direta do outro a esquerda. No meio do caminho, um golpe foi instalado em meio
a nossa Democracia ainda jovial. E de repente, tentaram anular o meu voto,
tentaram tirar de mim a minha escolha, de todos que a fizeram comigo.
A corrupção é algo
tão enraizado na nossa cultura, que modificá-la exige tempo, trabalho e
coragem. Coragem pra enfrentar os ratos do poder, para puni-los com severidade,
com justiça e imparcialidade. Mas o problema da corrupção é que ela atende a
interesses de poderosos de vários setores, inclusive a senhora Justiça que também
pode atender a tais interesses. O Moro jogou uma suposta bomba em meio ao
Estado Democrático de Direito, falou em nome da lei, usou de métodos
arbitrários, tentou agir como o Super Homem dos quadros modernos, agradou a
muitos, dentre estes, pessoas que não suportaram o resultado da última eleição
presidencial, pessoas que não suportam o acesso das periferias às faculdades
através de bolsas sociais, que não suportam a idéia do Estado assistir aos
menos favorecidos, das madames que não suportam as empregadas trabalhando com
dignidade, com CTPS, com direito as férias, FGTS e rescisão pagas com
dignidade. Que não suportam essas mesmas empregadas com acesso a graduação por
meio das mesmas bolsas, que não aceitam a idéia de dividir o pão recolhido em
impostos para o bem maior, a realização do sonho da casa própria para aqueles
que jamais poderiam ter acesso a ela. Não suportam as cotas para os negros, não
suporta ouvir a voz das favelas que sempre foram deixadas a marginalidade, que
não aceitam as diferenças como parte da Democracia.
Ontem, o que vimos
foi um cenário de delírio. Homens engravatados falando em nome desse povo exposto
acima, falando em nome de suas mulheres, mães, pais e filhas. Falando em nome
de seu estado, em nome da moral e dos bons costumes, esses praticamente não
praticados por eles. Falaram em nome do conchavo combinado em seus partidos,
unidos agora em nome do impeachment da
Presidente Dilma Rousseff. Estes mesmos homens que nunca suportaram a ideia de
uma mulher no maior cargo de poder de uma nação. Porque em suas cabeças o
machismo é o imperialismo praticado diariamente contra todos nós, todos os dias.
Este imperialismo que nem a Lei Maria da Penha encontrou forças pra enfrentar.
Não sou a favor da
corrupção seja ela qual for, assim como não sou a favor do envolvimento do
Partido dos Trabalhadores nos escândalos atuais. Mas também não sou hipócrita,
nem cega para não enxergar o teatro realizado ontem em Brasília. Para não
enxergar a banalidade com que cospem na nossa cara diariamente. Um exemplo o
Sr. Eduardo Cunha, presidindo a cena de ontem e tantos outros políticos que tem
seu nome envolvido em escândalos e processo de tudo quanto e tipo e
criminalidade.
Ontem foi o dia do
SIM ao impeachment da Presidenta,
ontem também foi o dia da alegria de alguns, mas não foi a batalha para um Brasil
melhor, enquanto não nos enxergarmos como cidadãos de ações arbitrárias também.
Enquanto ainda continuarmos agindo com espertezas diárias, enquanto
continuarmos furando fila, passando a perna no outro, “se dando de bem” em cima
de alguém. Enquanto não nos aprofundarmos em nossas ações cotidianas
arbitrárias ao próximo, enquanto não entendermos que a corrupção não se faz
somente no alto escalão do poder, mas nas ruas e vielas de muitas cidades
daqui.
Brasil mostra a sua
cara...
elizpessoa