quinta-feira, 21 de junho de 2012




Para Ernesto,

Depois de tudo que você passou e daquele tempo pra cá, o mundo mudou muito, deu muitas voltas em torno do mesmo círculo, numa tentativas desesperada de progredir em melhorias. Claramente, nem todos os homens e líderes estiveram sintonizados nessa boa onda. Nem todas as pessoas. Alguns até, correrão no sentido contrário, na teima em fazer diferente, pelo simples fato de terem como objetivo maior a ganância pelo dinheiro, colocando-o como o Deus supremo em frente aos seus humilhados.

Não sei como se sentiria hoje diante aos novos aspectos da realidade. Penso até, que se você haveria inquietado, conformando-se com os fatos, como se passasse a entendê-los como parte do processo, nesta falta poesia emprestados ao agora. Mas sei que você foi até o seu limite, arriscou todas suas fichas e deu a sua vida por seus ideais, pagando um preço muito alto por eles. Mas poderia ter sido diferente diante a você mesmo? Creio que não, pois sua natureza foi cercada de boas ideias e utopias. Influenciado pelos ares daquele tempo, sua vida foi o que coube ser, é foi tão grande que não conseguiram te matar. Do contrário, derramaram o seu sangue na terra sedenta de sua seiva, e a semente espalhadas criaram raízes profundas como das Gameleiras da cidade onde eu nasci. O seu sacrifício posto em carne, deixou a terra mais forte, cheia de força.

O tempo não desmatou a sua América tão nossa. Mas fez muito mal a ela, assim como fez mal a outros continentes povoados pelos homens, e outra revolução imposta sobre todos, deram forma a máquina do sistema que você tanto questionou. 

Nós aceitamos a imposição, porque a minha geração escolheu o encolhimento e desaprendeu a questionar algumas rotinas. Em especial, os sistemas. Preferiu a crença de que as coisas são assim mesmo, e que quem ficou pra ver a mudança, encontrou um mundo, para alguns, de ideais apenas intelectualizadas e sem cabimento no plano da praticidade, enquanto outros (muitos) estão tão preocupados com subsistência diária, que mal pensam em nossa suposta existência, apenas existem como formigas encantadas pela lida que antecede ao inverno.

Se você tivesse a oportunidade de lidar com esse tempo fracassado, encontraria outras fronteiras desalmadas, esbarraria com um senhor prepotente, vaidoso e cheio de sim mesmo. Esse cara desejado por praticamente todos, conseguiu fazer de você um grande negócio, estampado em camisetas, congelado nos utensílios do sistema denominado o capital. Mas esse mesmo cara é muito inteligente e por essa razão, jamais deixaria de alimentar algum tipo de esperança, ainda que traiçoeira em seus colaborados, porque ele sabe que se cortar esse sentimento nobre, o seu grande negócio perderá forças. Os alimentos dessa máquina advêm do trabalho das repetidas formigas humanas. Você mais do que ninguém sempre soube do poder dessa humanidade quando operada em prol de algo.

Adormecido em nosso tempo, apenas aprendemos a reclamar nas filas dos supermercados, bancos e etc., ou nos unirmos em passeatas exigindo a mudança das coisas que nos acometem. 

Querido, te confesso que você se tornou os fatos expostos nessa advertência, mas o pior é que se sua imagem também se tornou algo mais sexy que sua presença. Porque você foi um sujeito muito bonito, com uma cabeça recheada de ideias boas e atitudes corajosas. Um partido raro ultimamente. Foi inevitável que o tratassem assim, pois era um potencial de sua personalidade.

A verdade é que o mundo mudou muito de sua época para cá, e o uso de seus ideais também. Mas você não! Você continua o mesmo, inalterado pela morte, que lhe garantiu a ascensão de sua pessoa para um patamar alcançado somente por figuras realmente essenciais. Ainda mais diante de uma humanidade desertificada de ações efetivas. 


Sei que se estiver hoje em algum canto, de alguma outra galáxia, estará bem.
Mas se não estiver em lugar algum de outras dimensões, vive ainda no sentimento de injustiça existente em cada um de nós. Sendo assim, ainda somos companheiros de longas datas.


elizpessoa