domingo, 5 de setembro de 2010
A Seca
Foto de Marcelo Régua
O mendigo caminha seus passos vagarosos como quem não tem pressa para chegar ao outro lado da rua. Muito calor sobre a cidade nos remete, a nítida sensação acolhedora do frescor das sombras sob a copa da árvore. Todo o concreto, tijolos e asfalto construídos frente ao caminho do sol, refletem uma atmosfera abafada e a pele reclama a exposição epidérmica aos nocivos raios solares.
Insanas temperaturas em épocas de seca drástica, nos dão uma noção exata dos caminhos escolhidos por nós. Cidades crescem cada vez mais, sem alcançar uma barreira que limite a expansão do território, enquanto os homens continuam criando maiores necessidades de ocupação, consumo, substantivando as coisas, encaixotando-se dentro das grandes cidades em suas carências insaciáveis e infelicidades concretizadas pelo anseio do ter. E quando os possuem, perdem-se em si mesmos.
As aparições de animais selvagens nas cidades soam como uma invasão contrária, como se os bichos resolvessem dar as caras em bandas de gente. Os espaços da preservação estão cada vez mais prejudicados e escassos em função de nossas demandas desenfreadas que necessitam mais e mais áreas.
De fato, acabo tendo que concordar com visão de mãe, quando diz: “Minha filha, este mundo está perdido. É fim dos tempos!” Aceito a frase e a análise caótica de nosso tempo. Embora seja uma explicação simplista, sirva bem a qualquer cidadão.
Nunca tive muita paciência para as altas temperaturas, nem para os tempos infindos das estações chuvosas da cidade. Todo o extremo me apetece as idéias já não muito boas, e toda dificuldade no meio termo, cai como um ajuste difícil de realizar no nosso dia-a-dia.
Como tudo pede por um olhar mais acalmado, alegro-me pelos Ipês (sempre eles) exuberantes. Pelo pôr-do-sol alaranjado absoluto sobre o horizonte da cidade, sem falar nas manhãs de um céu azul e animado pelos cantarolar dos passarinhos e periquitos vindos do Goiás que entornam por todos os lados.
A seca é a estação que mais lembra o Centro-Oeste brasileiro. Tem toda uma poesia propriamente dela e um simples toco de cigarro pode acabar com tanta vida... Mas ao final das contas, ainda me resta a impressão de que, se um dia por alguma lucidez de Deus nossa espécie se findar num suspiro coletivo, a natureza, em especial, o mato dará um graças aos céus e seguiram seu curso, sem querer entender o que houve com cada um de nós.
eliz pessoa
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